domingo, 29 de abril de 2012

sábado, 28 de abril de 2012

Metamorfoses

Estranho limão.



As frutas, antes de o serem, são flores. E hoje, ao procurá-las, nas árvores do quintal, fui ver os limoeiros. Nesta altura, temos botões e flores de limão, limões verdes e amarelos, uns maiores outros mais pequenos, com suas formas habituais [de certo erotismo feminino] de todos bem conhecidas, certamente. Mas com a forma que hoje encontrei... Esta não esperava eu. Apesar da minha já longa experiência de vida. Mas vamos lá, primeiro, à "metamorfose" desta fruta - o limão.


Os limões começam como um simples e minúsculo botão. Depois, este abre-se numa pequena corola. Às vezes, no mesmo "cacho", enquanto um botão acorda, já uma ou outra corola se expõe de pétalas. Apressadas, houve sempre!


E de corola passa, depois, a fruto, que enquanto cresce [e "aparece"] vai mudando de cor. Primeiro, verde carregado. À medida que vai tamanho e peso, vai amarelecendo, isto é, vai sendo amarelo. Esta é, geralmente, a cor de que se pinta, quando bem maduro. [Olh'`ó maduro!...]

 
É na "idade madura" que, por vezes (como aconteceu, desta vez, aqui, no Mato), os limões apresentam dimensões e formas surpreendentes e estranhas. Surpreendentemente estranhas, ou estranhamente surpreendentes - à vontade do "freguês". Ou talvez não. E isto, visto seja de que lado for.




Pelos vistos, é melhor ficar-me por aqui.

[Cuidado com as formigas!... Veem-nas?... Só agora dei por elas.]

Então, até à próxima.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

SIlvestre, a primeira

UMA BELÍSSIMA FLOR SILVESTRE NA “JAGONÇA”

Não faço, habitualmente, as minhas caminhadas diárias, nem desarmado nem desprevenido. Levo sempre uma ou duas [já verão porquê] máquinas fotográficas e uma bengala [ou pau, se quiserem] ou guarda-chuva [a seu tempo se verá também porquê].
Hoje, porém, aconteceu. Levava o guarda-chuva [a manhã continuava enfarruscada], mas apenas uma máquina fotográfica. [Nem sempre se tem mãos para as encomendas.] E não é que, quando menos esperava, vi e logo parei, olhei e mais de perto observei, com a devida [de vida, também] atenção, para encontrar uma belíssima [-íssima,-íssima, -íssima, como diria o Pessoa(s), para reforçar o superlativo] flor silvestre. Onde? Na berma do caminho [a que ora chamam «rua» - vejam só! – e – ainda por cima! - «da Jagonça»*] que fronteira [do verbo fronteirar] Mato, a oeste, com Freixo.

Pois não é que, ao querer registar o surpreendente achado poças! [podem ler a interjeição na sua forma canónica] estava sem pilhas. E – poças! [idem] – não tinha levado a outra câmara. Porém, como, para tudo, nesta vida, há remédio, arranquei a flor e trouxe-a para casa. É uma das vantagens de os caminhos públicos e suas bermas ainda não terem sido privatizados! Aqui, isto é, em casa, fiz as três fotografias, entre outras, que neste post posto [presente do indicativo, primeira pessoa, do verbo postar].
A primeira, é a flor propriamente dita, isto é, a corola, com o seu androceu e o seu gineceu. {Gosto desta aliteração sibilante e rimada em [–sew], foneticamente escrevendo, claro.}


Des-lum-bran-te!!! Pela(s) cor(es) e pela(s) forma(s). Pelo tamanho, também. O círculo exterior da corola tem, de diâmetro (de ponta a ponta das pétalas), cerca de 5 cm e o interior à volta de 1 cm. O pedúnculo  ou haste não ultrapassa os 50 cm. Depois, não tem cheiro. Nada. A grandeza da sua beleza, porém, nem a melhor fotografia do melhor fotógrafo pode revelar. Só mesmo ao pé, ao vivo, de cócoras, devagar, sem pressas, lentamente, sem lentes na mente. Ora voltem cá a vê-la, agora, com algumas das suas folhas e alguns dos seus botões. O afastamento, por vezes, ajuda a ver/observar melhor.


Pois é. E agora, como se chama esta maravilha? E/ou a erva de que ela brota? Terão o mesmo nome, certamente. Mas qual? As navegações informáticas não me permitiram descobrir esta "especiaria".


Ofereço, por isso, uma rodada [pode ser um garrafão, ou mais] de tintol verde carrascão ao(s) sabedor(es) que, botânico ou não, me informar da sua designação ou designações (também a científica, se possível).

NB – Como, certamente, já perceberam, com este post, começo a postar fotos [ponto] com traço [de menos] grafia.

(*) A fotografia da «Rua da Jagonça» foi tirada há já bastante tempo. Destina-se a estudo que, um dia, hei de fazer, sobre velhas e novas toponímias de Mato e freguesias vizinhas, suas damas de honor. Já agora, «jagonça» deve ser alcunha. Ou será «pedra preciosa» ou como tal considerada? Ou terá a ver com o termo brasileiro «jagunço»? O Emídio que explique, pois a dita «rua», outrora caminho e ora estrada alcatroada, faz parte dos seus “domínios” e “interesses”. Culturais, evidentemente.

domingo, 15 de abril de 2012

Joias Silvestres

Hoje, ao dar a minha caminhada, pelos caminhos [Agora – vejam só a modernice – chamam-lhes “ruas”, “travessas” e até “avenidas”!...] cá do Mato, minha terra natal, passei junto de um campo que foi dos meus pais e agora é propriedade de uma minha irmã. «Campo das Cortinhas», chamamos-lhe.
Era para ele que, quando puto, menos me custava levar o gado a pastar. Guardá-lo era fácil. Além disso, ficava relativamente distante de casa. A vigilância paterna era menos atenta. A terra tinha, do lado sul, uma pedreira desativada e, do lado poente, face ao caminho fundo, uma fonte. Estão, hoje, todos (uma e outro e outra) irreconhecíveis. A pedreira foi entulhada e encontra-se coberta de infestantes mimosas. O caminho subiu de nível, a todos os níveis: foi alargado, alcatroado, passou estrada, é rua – «Rua do Barreiro». A placa lá está. Mas deveria chamar-se «das Cortinhas», se se conhecesse e respeitasse a toponímia antiga. A IMAG. 1 mostra, em parte, o descrito. A fonte [Ó rapazes!] dá dó: abandonada, é um charco, uma lástima [IMAG. 2]. Dantes, os consortes mantinham-na limpa, como o rego que nela nascia. A água era potável, correntia, límpida. Servia tanto para animais, como para usos domésticos e humanos. Quantas vezes dela bebi, com a concha das mãos! Era também, naturalmente (sobretudo), utilizada na rega dos campos vizinhos.


O Campo das Cortinhas era de pasto fraco (terra de sequeiro), mas as vacas e/ou as touras dele não fugiam facilmente. Os valados das terras vizinhas dos vizinhos, o muro alto do caminho fundo e a pedreira, por um lado, e a cancela, por outro, não lhes permitiam fugas. Mesmo comigo distraído, sozinho ou acompanhado, em brinquedos e brincadeiras. [Todas bem bonitas, de nenhum modo nunca feias, Sôrabade!] A sua guarda apenas se complicava quando lhes mordia a sede ou o cio, arrebitando-lhes o rabo. [«A toura and’ò boi!  – Avisava-se – É preciso levá-la ao Pilo.» O Pilo era o lavrador que tinha o “macho de cobrição”. O serviço era pago em dinheiro ou géneros agrícolas.] Quando uma delas se inquietava [Á, sua tola!...] atirava-se às parceiras, de tal modo, que, mal a gente se desprecatava, já ela lá ia a todas, correndo, berrando e saltando, desenfreada, levando as outras atrás ou à frente. [Umas doidinhas, coitadas!]
Pois quando não tinha parceiros para brincar, arranjava eu maneiras de ocupar aquele tempo de trabalho chato, monótono, cansativo. E como só trabalha quem não sabe fazer mais nada e as vacas, depois do Pilo, nas Cortinhas, não me davam trabalhinho nenhum, lá ia eu fazendo uns brinqueditos e praticando uns divertimentos, para, assim, sem trabalhos, acelerar os ponteiros do tempo.
Nas Cortinhas, vi a esmo semeados pela natureza, entre outras ervas, muitos malmequeres bravos, na sua cor viva de amarelo intenso. Foi então que, num rápido pensamento de e-terno retorno, recordei as joias silvestres que com eles fazia, no tempo de «guardador de vacas e de sonhos», como o Constantino do Redol.
Os malmequeres [Porque raio não se lhes chama bem-mequeres?...]  abundam, nesta época do ano. Nascem, crescem, florescem, multiplicam-se e topam-se por toda a parte, num sítio qualquer. Ao deus dará. Até onde menos se espera. Mas os seus espaços preferidos são os campos cultivados. Devido, certamente, aos fertilizantes, sobretudo orgânicos, apesar de agora já não haver gados para grandes estrumes. Campos há, todavia, que mais parecem enormes tapetes amarelos, tecidos a malmequeres [IMAG. 3].


Ora, vamos lá, agora, às ditas joias. [Com os assaltos que, ultimamente, têm acontecido a ourives e ourivesarias, estas não cairão, certamente, tão facilmente nas mãos dos larápios.]
Chega de tretas! Conta mas é como se manufaturam esses “tesouros”?
Pois cá vai. Primeiro, apanha-se um bom punhado de malmequeres, retirando-se as corolas dos pedúnculos. Escolhe-se um pé, para “fio”, onde se vão enfiando as “pérolas” [IMAG. 4]. Este deve ser, por isso, o mais direitinho possível e limpo de folhas, para que o enfiamento seja fácil e as corolas não sejam danificadas e/ou destruídas [IMAG. 5]. Quanto mais longo for, maior poderá ser a joia.


Como “fio”, além de outros caules ou hastes, serviam-me também pedúnculos da flor da “língua de ovelha” [IMAG. 6], erva tão brava como os malmequeres. Aliás, encontram-se muitas vezes juntas. Danadas daninhas, como todas. Em seguida, enfia-se a ponta do pedúnculo, por trás, no centro de cada corola, atravessando-lhe o gineceu [IMAG. 7]. Com jeito, len-ta-men-te, cui-da-do-sa-men-te... Porque estes malmequeres, apesar de silvestres, são muito frágeis e delicados. [Por essas e outras é que, um dia, um aprendiz de poeta escreveu: «em cada flor há sempre um gesto / de suicídio»[1].]


Enquanto pedúnculo houver para corolas enfiar, por um lado, e o tipo, medida e quantidade de joias a construir, por outro, é continuar. Com o pedúnculo quase preenchido, enfia-se, sempre com jeito e cuidado, a ponta restante do dito no gineceu (mais ou menos) da flor [IMAG. 8]. A joia ganha, desta forma, uma forma circular [IMAG. 9].

 
Por fim, aconchegam-se as flores e... Pronto: está pronta a joia. Consoante o tamanho do diâmetro, teremos um colar, uma coroa, uma pulseira ou outra peça que adorne e enriqueça (ainda mais) cada uma destas joias. Ou outras que o engenho e a arte do “joalheiro” for capaz de inventar e produzir.
Agora, é só colocar estas preciosidades [Tão delicadas e efémeras como as outras, pois tão naturalmente reais e realmente naturais, ou mais, que as demais.] ao pescoço, na cabeça, no pulso, ou em todas estas partes e outras, ao mesmo tempo [IMAGS. 10 a 12]. Ou então, oferecê-las, ternamente, à pessoa amada, mesmo sabendo-se que não é de contar com retorno equivalente.
 

[1] David Rodrigues, 1981: O Rito do Pão. Coimbra: Centelha, p. 15.