sexta-feira, 5 de julho de 2013

Apitadelas 002 (Cont.)



Apito de cana de foguete – Fabrico



Os materiais indispensáveis ao fabrico de um apito destes são, como se disse no post anterior, uma cana de foguete, sua matéria prima, e um pau, o mais redondo possível ou então arredondado.

Quanto a ferramentas, uma navalha bem afiada e um serrote, daqueles pequeninos e de lâmina fina, bastam. Além disso, será necessário limpar o apito de arestas e imperfeições, o que se pode fazer com lixa. E se o pauzinho a enfiar no buraco da cana não ficar bem ajustado, resolve-se o defeito com um pouco de cola.

Ora, então é assim.  
Escolhe-se o pedaço de cana em melhor estado de conservação. Que não esteja rachada, por exemplo. Que sons de cana rachado é o que mais por aí se ouve, todos os dias. Esta escolha depende, além disso, do som da apitadela que se quer dar: se som agudo, um pedaço fino; se grave, grosso. O comprimento do fragmento também tem influência no som. Entre a apitadela mais aguda e a mais grave, poderá um perito em apitadelas construir uma série de apitos (não confundir com apitos em série), dando a cada um a nota de uma escala de sons.

Corta-se, depois, um fragmento da cana. De um lado, pelo menos, o corte tem de ser feito junto de um nó, mas sem o danificar. O apito é tapado no lado oposto ao do sopro. Se o corte for entre nós, dado ao meio do fragmento, fica logo com cana para dois apitos.


Agora, com o serrote, dê, no fragmento escolhido, um ligeiro golpe, pouco profundo, na vertical, a uma distância entre 8 a 15mm (milímetros) da extremidade aberta. Em seguida, com a navalha, abra um buraco, em cunha, como se mostra nas imagens seguintes. 


E chegou a altura de enfiar o pauzinho. Limpe-o e arredonde-o, de modo que ele entre no buraco do fragmento, bem ajustadinho. A ponta dele, enfiada, não pode ultrapassar o corte vertical da abertura em cunha, antes referida. Cuidado: não force! Pode rachar a cana. Mas não se preocupe. Uma cana de foguetes dá para muitos apitos. Além disso, vai ser necessário retirar o taquinho de pau que fica dentro do fragmento, depois da operação seguinte. 


Com o serrote, corte, em cunha (30 a 40 graus, mais ou menos), toda a extremidade da cana e do pau, em diagonal oposta à abertura superior do apito. Assim, viu?...
Agora, retire o pauzinho e, com a navalha, corte, no lado mais longo, uma pequena lasca, de modo a que ele fique com uma superfície lisa e plana. É por este intervalo, deixado entre esta superfície do taquinho e a superfície curva da cana, que vai passar o ar e apitar. Volte a enfiar o taquinho no buraco do fragmento. Ajuste.


Experimente. Coloque o apito entre os lábios, com a abertura em cunha para cima. O lábio superior, porém, não a pode tapar. Sopre.
Apita? É um bom artesão de apitos. Conseguiu à primeira. Passe, antes que seja tarde, pelo meu gabinete, para lhe passar a certidão da correspondente equivalência. Sei que será também um grande artista em apitadelas.
Ai, não apita?... Não desanime. Ajuste o pauzinho, os lábios e/ou a intensidade do sopro. Tente, novamente. Verá que consegue. Nem sempre nos sai apitadela à primeira!
Agora, é só fixar, definitivamente, o pauzinho no buraco. Recorra a cola, se for necessário. Neste caso, deixe secar. Depois, limpe, com lixa, arestas e outras mazelas.


Pronto, está pronto o seu apito. Felicidades! Boas apitadelas! E-ternaMente!

4 comentários:

  1. Da primeira " apitadela"não me lembro de ter tido notícia.
    De artes e ofícios é também o David mestre. Não me causaria nenhum transtorno se um apito desses viesse para a minha minúscula coleção de tais instrumentos, os meus em louça,feitos por quem sabe, que não eu...
    Com o "E -terno retorno" é só surpresas!

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    1. A primeira «apitadela» mostrei-a aqui: http://e-ternoretorno.blogspot.pt/2011/10/apitadelas-i.html

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  2. Até era capaz de servir para dar uma valente apitadela a uns "senhores" que por aí andam.

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    1. Esses já não com «apitadelas». Só a «toque de ciaxa».

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