segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Bela e o Monstro


Esta é, certamente, umas das flores mais bonitas dos nossos jardins. Os entendidos chamam-lhe «gaillardia», em homenagem a Marentonneau Gaillard, botânico francês do século XVIII. Nós, leigos, chamamos-lhe gailárdia (está-se mesmo a ver porquê) e laço espanhol (cujo porquê não se vê – pelo menos eu). Cá no Mato, existe há pouquíssimo tempo. Encontrei-a, murcha e abandonada, às portas da morte, na valeta de rua de uma cidade. Recolhi-a, (re)plantei-a, vigiei-a, cuidei-a. Salvou-se.

Em sinal, possivelmente, de reconhecimento, a danada (mas não daninha) multiplicou-se em rebentos e flores. Espero que a sua reprodução continue, pois é, como se vê, (mais) uma beleza. Possui um rico centro (androceu e gineceu) repolhudo e cheio de pólen. Não se estranhará, por isso, que, além de atraente, seja igualmente atrativa. Mas palco de um crime, isso é que não estava, certamente, nos seus planos…

Há dois ou três dias, descobri-lhe, na corola - com alguma dificuldade, diga-se -, um insignificante bichinho. Chamou-me, todavia, a atenção o facto de ele, como o camaleão, mudar a cor do corpo, consoante a cor da parte da flor em que se encontrava. Um monstro, por isso. Observando-o mais de perto, verifiquei que até as patas apresentava listadas de amarelo e vermelho. Disfarce? Sem dúvida. Mas… de defesa ou ataque?


O monstro vê-se rodeado, no círculo. Julguei (e julgo) tratar-se de uma estranha aranha. [Ajude-me quem souber. Obrigado!] No dia seguinte, voltei ao «local do crime». O aracnídeo [?] lá continuava, agarrado à flor. Desta feita, porém, pouco disposto a aturar o visitante. Mal sentiu que me preparava para, de novo, fotografá-lo, escondeu-se rapidamente na parte inferior da corola. Não se safou, como se pode ver.



Será que o monstro adivinhava que iria fazer uma reportagem sobre a sua estranha presença e o seu ainda mais estranho comportamento?

Pois é, hoje apanhei-o. A sua estratégia de camaleão não era defensiva. Era, sim, ofensiva. E de que maneira!


Com a presa – uma vespa – entre as tenazes, o predador camaleónico voltou a deixar-se fotografar. Como quem diz: tira lá os retratos que quiseres, esta já não me escapa.


Não se pense, face à imagem, que a vitória é da vespa. Não. Confirmei. Analisando a situação, verifiquei que o monstro está vivo e de barriga cheia. Aliás, desinteressou-se da vítima, mal lhe toquei com a ponta de um pau. E a vítima – a vespa – está morta, reduzida ao esqueleto.

Consumado o «crime», o monstro protege-se sob o corpo da vítima. Será que está utilizá-lo como isco, para novo ataque? Será que está a fazer dele escudo de proteção? Ou será que, papo cheio, está a dormir a sesta?

Mas a bela gailárdia, apesar de ter sido atraente e atrativo palco para o «crime», não pode ser condenada. Nem por indiferença, nem, muito menos, por cumplicidade. Os monstros sabem-na toda!...

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