Esta é, certamente, umas
das flores mais bonitas dos nossos jardins. Os entendidos chamam-lhe
«gaillardia», em homenagem a
Marentonneau Gaillard, botânico francês do século XVIII. Nós, leigos, chamamos-lhe
gailárdia (está-se mesmo a ver
porquê) e laço espanhol (cujo porquê não
se vê – pelo menos eu). Cá no Mato, existe há pouquíssimo tempo. Encontrei-a,
murcha e abandonada, às portas da morte, na valeta de rua de uma cidade. Recolhi-a,
(re)plantei-a, vigiei-a, cuidei-a. Salvou-se.
Em sinal, possivelmente, de
reconhecimento, a danada (mas não daninha) multiplicou-se em rebentos e flores.
Espero que a sua reprodução continue, pois é, como se vê, (mais) uma beleza. Possui
um rico centro (androceu e gineceu) repolhudo e cheio de pólen. Não se
estranhará, por isso, que, além de atraente, seja igualmente atrativa. Mas palco
de um crime, isso é que não estava, certamente, nos seus planos…
Há
dois ou três dias, descobri-lhe, na corola - com alguma dificuldade, diga-se -,
um insignificante bichinho. Chamou-me, todavia, a atenção o facto de ele, como
o camaleão, mudar a cor do corpo, consoante a cor da parte da flor em que se
encontrava. Um monstro, por isso. Observando-o
mais de perto, verifiquei que até as patas apresentava listadas de amarelo e
vermelho. Disfarce? Sem dúvida. Mas… de defesa ou ataque?
O monstro
vê-se rodeado, no círculo. Julguei (e julgo) tratar-se de uma estranha aranha.
[Ajude-me quem souber. Obrigado!] No dia seguinte, voltei ao «local do crime».
O aracnídeo [?] lá continuava, agarrado à flor. Desta feita, porém, pouco
disposto a aturar o visitante. Mal sentiu que me preparava para, de novo, fotografá-lo,
escondeu-se rapidamente na parte inferior da corola. Não se safou, como se pode
ver.
Será
que o monstro adivinhava que iria
fazer uma reportagem sobre a sua estranha
presença e o seu ainda mais estranho comportamento?
Pois
é, hoje apanhei-o. A sua estratégia de camaleão não era defensiva. Era, sim,
ofensiva. E de que maneira!
Com a
presa – uma vespa – entre as tenazes, o predador camaleónico voltou a deixar-se
fotografar. Como quem diz: tira lá os retratos
que quiseres, esta já não me escapa.
Não se pense, face à
imagem, que a vitória é da vespa. Não. Confirmei. Analisando a situação,
verifiquei que o monstro está vivo e
de barriga cheia. Aliás, desinteressou-se da vítima, mal lhe toquei com a ponta
de um pau. E a vítima – a vespa – está morta, reduzida ao esqueleto.
Consumado o «crime», o monstro protege-se sob o corpo da vítima.
Será que está utilizá-lo como isco, para novo ataque? Será que está a fazer
dele escudo de proteção? Ou será que, papo cheio, está a dormir a sesta?
Mas a bela gailárdia, apesar de ter sido atraente e atrativo palco para o
«crime», não pode ser condenada. Nem por indiferença, nem, muito menos, por
cumplicidade. Os monstros sabem-na
toda!...
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